quarta-feira, 30 de setembro de 2015






Luis tinha 15 anos quando sepultou o irmão mais velho, com quem dividiu o beliche a vida toda. Não fosse bastante, teve de assessorar a mãe em seu definhamento, carcomida pela tristeza até ir ela própria para a cova. Ele tinha 17 então. Anos depois enterrou a irmã mais nova e viu o pai, garrafa a garrafa, segui-la terra abaixo. Com a herança que lhe coube, Luis cultiva hobbies como pendurar o corpo em ganchos de aço, espetar piercings e deixar-se tatuar com agulhas de bambu em regiões tão sensíveis que fariam um sadhu estremecer. Tudo para encontrar na carne dor intensa o bastante para dissipar aquela que lhe aflige a alma.
Até o momento, sem sucesso.






quarta-feira, 23 de setembro de 2015






Trabalho de sol a sol. Tempo para diversão desconheço. Para mim, basta o que dá para sobreviver. Para os meus, porém, sempre o melhor, mesmo não sendo muito. Pecado só tenho um: o orgulho de ver a alegria das crianças toda vez que volto para casa com um cadáver em bom estado.






terça-feira, 22 de setembro de 2015

quarta-feira, 16 de setembro de 2015






Entraram na cerração na altura de Bom Jardim de Minas.
- Tá demorando muito esse trevo. Cê não passou não?
- Você viu alguma placa, por acaso?
- Não, mas
- Então me deixa dirigir e vai jogar Candy Crush.
- Grosso.
- Histérica.
- Ignorante.
- Mimada.
Porquanto não sentiam fome nem sede, rodaram eternamente na neblina trocando afagos sem alcançar qualquer estrada ou cidade. O inferno, descobririam, não fedia a enxofre, mas a odorizante automotivo Floral Perfection 70g.









quarta-feira, 9 de setembro de 2015






mas trabalho de ascensorista é engraçado mesmo, por causa que a gente só ouve história pela metade.
uma hora início, outra o fim, das vez o meio.
mas teve um dia que eu não aguentei não e fui atrás de uma dona que falou um trem muito esquisito no telefone -
Seu andar, senhora.






segunda-feira, 7 de setembro de 2015

terça-feira, 1 de setembro de 2015






O saco cheio com 47 pombas abatidas a tiro de chumbinho, ele apalpa as bichinhas. Osso e pena das desgraçadas que nem pra fritar servem.











Toda vez que Lúcio me chama (de novo e outra vez) pra correr na universidade eu lembro do tempo em que ele fumava dois maços de hollywood vermelho, três baseados, enchia a cara de cachaça, cantava Nelson Gonçalves a capella baixinho, recitava Augusto dos Anjos e depois dormia na mesa do bar. Vício por vício, aqueles eram menos assediantes.