quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015







Terêncio e Sandra eram um tipo muito peculiar de vampiros. De tempos em tempos, trocavam de amigos, alimentando-se de sua juventude e do frescor das novidades que traziam. Sem jamais mudar seus próprios comportamentos, andaram com beatniks, hippies, punks, grunges e hipsters, mantendo relações sempre superficiais, de modo que pudessem descartar o antigo tão logo o novo acenasse da janela. Hoje, irremediavelmente velhos e desinteressantes, arrastando-se entre móveis de todas as épocas no palacete art decó no centro da cidade, sem ninguém mais para apartá-los, sorvem lentamente o amargor do inferno de suportar um ao outro pelo que lhes resta de eternidade.








quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015







Com o amor agora ele só brinca no berço.
E afoga-o no primeiro banho.
Até que outro nasça.












Da morte, o fato em si, nada a reclamar.
Só me dói é que eu tinha ingresso praquele jogo contra o Grêmio.







quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015







Quando Gustavo enfiou sua moto embaixo de um caminhão, levou três semanas para alguém começar a acreditar realmente que ele sobreviveria. Quatro meses depois ele saiu do hospital em uma cadeira de rodas, com pinos e parafusos cravados em todas as partes do corpo e armações de ferro expostas em suas coxas e canelas. Mais dois anos e ele já estava jogando futebol uma vez por semana. Até hoje Gustavo acha que não limparam direito sua testa quando o costuraram, então tem a impressão de que há pequenos cacos de vidro e micropedrinhas por baixo da pele. Nas primeiras noites após sair do coma, ele ouvia algo como uma porta rangendo dentro da cabeça, mas ninguém nunca soube precisar o porquê. O barulho continua, noite após noite, mas hoje ele nem reclama mais, pois sabe que é a Morte a rilhar os dentes de raiva por tê-lo deixado escapar.